quinta-feira, 27 de setembro de 2012

"A preparação física e o treino desportivo" de Gustavo Couto

"Achei que este seria um bom tema para começar a minha contribuição para o fórum após uma breve conversa com o André, pelo que aqui vai. Devo contudo, começar por dizer que se escrevesse este artigo há seis meses atrás, a minha opinião sobre cerca de metade do que aqui vou expor seria muito diferente sendo por isso mesmo que optei por partilhar com quem participar este fórum.




A preparação física deve ser vista sobre dois planos principais, o cardiovascular e o muscular (calem-se os integracionistas uma vez que a partir do momento em que se fala de preparação física já está implícito a segmentação do processo de treino, pelo que sugiro que continuem a linha de pensamento comigo) sendo que tanto para um como para o outro há que ter em conta as especificidades fisiológicas da modalidade, algo que muita boa gente se esquece aquando da prescrição. Nesse sentido, não faz lógica nenhuma treinar em regime de anaeróbio aláctico (velocidade pura) porque ninguém vai realizar um sprint durante o jogo sem cansaço acumulado (principalmente aos 35 minutos de jogo), por outro lado, treinar num regime puramente aeróbio (resistência) pode ter a vantagem de tolerância ao cansaço mas fica esquecida a componente velocidade, fundamental para as transições defesa-ataque. O que daqui se pode depreender é que o ideal seria ter o melhor dos dois mundos, e é o que se pode ter quando se treina em regimes anaeróbios lácticos (velocidade resistente) que mudam, literalmente, a capacidade de resistência dos músculos a elevados níveis de lactato. Se por um lado sou apologista do treino integrado, tenho a prefeita noção que o treino desta capacidade é muito difícil de ser reproduzida num exercício complexo, fundamentalmente devido às variáveis duração e variação de intensidade (principalmente quando se aplicam sistemas de treino intervalado). Quero com isto dizer, que por muito que doa ouvir, acho que não há melhor forma de treinar esta capacidade do que na sua forma mais pura, a corrida (e que leva entre seis a oito semanas a ser adquirida na sua plenitude) devo porém fazer a ressalva que depois de adquirida, basta a planificação normal com umas sessões intermédias de reforço em alturas mais paradas do campeonato.



No plano muscular, a coisa é outra... Temos primeiro que perceber o que queremos trabalhar, se o corte transversal da fibra se os factores neuromusculares. Se tivermos em conta que o número de kg de massa muscular varia muito pouco (estando geneticamente definido) só nos interessa realmente trabalhar os factores neuromusculares, não esquecendo contudo o principio da especificidade, ou seja, o musculo só ganha força nas amplitudes e movimentos treinados...



Trocando isto por miúdos, o que quero dizer é que não é qualquer exercício de força que serve para a prática da modalidade, e até hoje, nos anos que tenho de ginásio, só conheci dois exercícios que possuem capacidade de transferência para todo o qualquer esforço, e que são o agachamento e o peso morto (exercícios de elevada capacidade técnica e que não aconselho a ninguém a fazê-lo sozinho e sem alguém que domine a técnica). Se mesmo assim quiser treinar o músculo, o treino deverá centrar-se em processos de consciencialização corporal (conhecimento do próprio corpo através de instabilidades e recrutamento neuromuscular) ou então naquele que é o sistema de preparação física do futuro (do presente já em algumas partes do mundo) e que é o da prevenção da lesão. Este sistema baseia-se na aplicação de uma bateria de testes com o intuito de identificar quais os pontos fracos e de instabilidade do atleta, assim como as assimetrias direita esquerda, uma vez que a lesão dá-se sempre no ponto mais fraco, treinando posteriormente o atleta com o intuito de o reequilibrar/harmonizar fisicamente. Falamos por isso numa quase fisioterapia mas em vez do lesionado, é do atleta são, trabalhando para a prevenção da lesão e reequilibro corporal.



Em suma, o que procuro passar é a mensagem de que esqueçam o trabalho de preparação física se não sabem o que estão a fazer, mas se mesmo assim quiserem fazer alguma coisa, recorram a quem sabe para que um atleta não se lesione, pois só os grandes lideres é que conhecem as suas limitações e se rodeiam de especialistas nessas áreas, isto porque sabem perfeitamente que no fim quem decide são sempre eles. Se não conseguirem encontrar um especialista, deixem-se ficar pelo treino integrado (que uma das suas grandes mais valias é não ter que saber muito de fisiologia) e usem muito bom senso e respeitem os períodos de intervalo/ descanso. "

Gustavo Couto

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